This is a project about brasilian (with ‘s’) immigrants, their dreams, how they built their homes, how they keep their culture alive.
BRAGASIL: HISTÓRIAS DENTRO DAS HISTÓRIAS
Fundando seu país particular, uma terra onde sua identidade é criada, recriada e defendida com as ferramentas possíveis. Camadas de realidade construídas com chamadas de vídeo, grupos de WhatsApp e Facebook, amizades de Instagram, de proximidade/conveniência e forjadas nas dificuldades do dia a dia.
To me, everything must be within the capoeira circle. Inside of it, I have my grandfather, a boxing champion who decided to cross the Atlantic Ocean to fight for a better life in Brazil, and the decisions I made when moving from Brazil to Angola to Portugal. My ginga helps me bend without breaking. My dodging skills keep my head high - together with a curious, critical look over my shoulder so I never lose sight of my family, my people, my heritage, my fights. Destiny gives us directions. We choose our north. I went the opposite way of the slave ships.
Assim entrei no jogo aos doze anos, no banco aos quinze, na minha primeira grande aventura aos vinte e três. E, de roda em roda, sigo girando com o mundo há vinte e nove anos.
Minha história começa em Angola antes mesmo de eu pisar no país pela primeira vez. Ela começa na História do homem há milhares de anos e no século XX com meu avô. Lutador como eu, batalhador como eu e imbatível no boxe a ponto de não cair com um golpe baixo que tirou dele o título de Campeão Ibérico por não ter nascido na península, ainda que isso não tenha impedido que o tirassem de casa como atração especial do torneio. Depois de muitos jebs, diretos e ganchos, desferiu o maior cruzado da sua vida: cruzou o Atlântico para oferecer mais à família, em português com sotaque e tempero diferentes.
Sou carioca da Glória, mas a glória é passageira. Já o legado é atemporal. É por ele que me esforço diariamente. Pela capoeira não como dança ou arte marcial, mas construção histórica de povos explorados que, ao se encontrarem em terras que não eram as suas, criaram uma das expressões culturais mais bonitas que já gingaram na face da Terra.
Da minha famíla, herdei o nome. Do meu avô, o sangue peleador. Da África, o DNA. Do Mestre Camisa, muito do que aprendi e hoje ensino. Por todos eles me engajei em Angola, por eles e pelos que ainda virão me aprofundei nas raízes da capoeira. De óculos, batalho pela verdade. Sem eles, pela vida. Assim era no Brasil, assim foi em Angola, assim é em Portugal. Assim será onde eu estiver, enquanto tiver forças para lutar pelo que acredito.
O destino nos dá direções. Nós escolhemos o nosso norte.
It is not people that God brings together but purposes. It's been a long road, from travelling for fights to fighting for living in the country I came to conquer. Walking alongside, I see my family and friends and martial artists from so many places. Every one of them a bit more Brasilian thanks to my art - the same art that makes me more and more a global citizen. How curious. The world is big enough to make us feel small but never for our dreams. Maybe its size keeps pace with my growth, which I hope will never ever stop. May I keep meeting, along this journey, the ones going through the same path.
O meu sempre esteve ligado à saúde. Minha academia era minha casa; Curitiba, meu mundo. Até que conhecidos mostraram os desígnios ocultos de Deus.
Frustração é uma sensação forte como a palavra. Ela me fez aceitar a proposta para uma cidade que não conhecia em um país que não era o meu, e me fez conversar com Ele quando o futuro calava. Em frente à minha casa vi uma pequena nuvem do tamanho da mão. Por ela chorei com minha esposa. Nela coloquei curso profissionalizante e profissão, instalar piso e rolar no chão. Olhava apenas para o alto. Por trás dela, uma luz ofertou meu novo horizonte. O valor de ser ajudado como sempre ajudei era incalculável e emocionante.
Cascais era apenas um pontinho além-mar quando um chamado cruzou o oceano e mudou meu destino. Quem tem Deus no coração sempre tem um lar, e Braga me chamava para uma casa de oração. Sem fotos para me orientar, sem lugar para morar, sem trabalho para me sustentar, viajei, certo de que minha fé era o suficiente. Certíssimo, eu estava. Cheguei avisado que seria um “tempo de aceleração” na minha vida. E tudo aconteceu muito rápido: aulas de jiu-jitsu, família reunida, irmãos de pátria, guerreiros do mundo inteiro. Todos lutando comigo, por mim, ao meu lado.
Quando você quer que Deus te veja, entra no teu quarto e fala com ele; quando quer ver Deus, olha pra pessoa ao lado. Eu bato nas portas, Deus abre. Eu bato cabeça, a vida abre. Quanto mais meu universo expande, menor me sinto e maior é a minha compreensão das pessoas, das culturas, da vida. Hoje eu vejo o quanto cresci como pai, marido, amigo, ser humano.
Eu estou na estação certa, no tempo certo. Eu sou do tamanho da minha evolução. Que ela não pare jamais.
Dreaming and realising have no age. I believe in God, not coincidences. This is what took me to Ms. Braga’s lecture on postural gymnastics, brought me to the Pilates classes in Braga, and made me leave behind all I had to keep walking towards what I was looking for. He gives me guidance and puts people and situations in my life. He gives me support, and I show my gratitude just like my students show me in the gym. He gives me strength, which allows me to fight and helps me close the wounds to strengthen me. I carry on my skin what defines me and what does not exist. The infinite. Like my faith.
Nem existem coincidências, e sim Deus te enviando para onde você deve ir. Talvez por isso, apesar de mineira, o Espírito Santo tenha visto eu crescer.
Meus pais, meus amigos, meu apartamento, meu negócio. Tudo ficou em Vila Velha, onde nasceu o sonho de ser professora. O medo das aulas de anatomia no curso de Educação Física era forte. O gosto por ginástica postural foi mais forte. A conexão com a professora Braga foi de outro mundo, o que me levou para uma cidade com o seu nome em outro país.
Deus está em tudo. Sem Ele seria ainda mais difícil, e olha que não foi fácil tentar embarcar para Portugal duas vezes, vencer um problema de pulmão e cruzar sozinha a fria fronteira um dia antes de ela ser fechada por causa da pandemia. Mas consegui, e a falta de do que a terra da minha família dá lá é compensada pelo arroz com feijão que me dou cá, pela música no celular, pelos papos nos cafés e pelos abraços possíveis. Porque abraçar é importante, mas ir devagar também. Carinho e confiança se constroem com o tempo, ainda que a gratidão tenha começado a frequentar minhas aulas antes do que esperava.
Os portugueses precisam ser amados da mesma forma que amo meus filhos, estejam perto ou longe de mim. E as vitórias precisam ser celebradas, estejam elas na minha cabeça ou no meu cotidiano. No meu país eu tenho coisas que me faltam, mas aqui eu consegui o que buscava: paz de espírito, segurança no caminhar, liberdade para conquistar.
Tenho histórias que darão um livro um dia, com páginas que virão para incentivar pessoas de qualquer idade a irem em busca dos seus sonhos. Todos os dias. Sonhos que, com vigilância e obediência a Deus, terão a ajuda dEle para serem alcançados. Essa é a luta. Que deixa marcas, sim. Mas que cicatriza e me deixam cada vez mais forte.